A imagem de 1960 mostra
a Bugra Ana. Aparecem na foto
Maria da Graça Silva, Ana Bugra, Ângela Solange Chaves e Teresinha Fernandes.
Órfã de pais, assassinados pelos implacáveis
"bugreiros",uma indefesa indiazinha foi entregue às freiras do
Convento das Irmãs da Divina Providência em Blumenau. Era o início do Século
XX. Recebeu um nome cristão, Ana, e durante toda a sua vida dedicou-se aos
serviços do Convento e do Colégio Sagrada Família, retribuindo assim sua adoção.
Tornou-se uma cristã civilizada e era muito
benquista na comunidade blumenauense.
Imagem arquivo
Lorena Karasinski/Enviada por Adalberto Day
Publicado no Jornal de Santa Catarina dia 13/05/2013, dia da abolição da abolição da escravatura no Brasil (1888).
Coluna Almanaque do Vale/Jackson Fachini
Publicado no Jornal de Santa Catarina dia 13/05/2013, dia da abolição da abolição da escravatura no Brasil (1888).
Coluna Almanaque do Vale/Jackson Fachini
Em História de nosso
cotidiano apresentamos hoje à conhecida “Índia Bugra”, foto enviada por Lorena
Karasinski.
Segundo A senhora
Lorena a “Índia Bugra” como era conhecida era uma pessoa calada,
taciturna, e que adorava brincos e outras bijuterias.
Tinha um sorriso
fácil e as poucas palavras que balbuciava nem sempre eram entendidas por nós.
Ajudava as Irmãs na cozinha, varria as dependências do colégio, mas acho que o
que mais gostava de fazer era trabalhar na horta.
Poder-se-ia dizer
que vivia seu próprio mundo. Na época as Irmãs contavam que ela foi encontrada
no mato quando os outros índios fugiam ela então com mais ou menos - 2 anos de idade
, tropeçou em uma raiz e devido ao acidente ficou para trás.
Realmente lhe faltava
à parte da frente (dedos) do pé e por isso mancava. Como se vê na foto, usava
um pedaço de galho como bengala. Desde então foi criada pelas freiras. Em 1960,
ano desta foto, devia estar perto ou com mais de 100 anos. Por não ter
possibilidade de precisar sua data de nascimento, a data de aniversário era comemorada
junto o aniversário do colégio. Os estudantes a respeitavam muito e nesta data
a presenteavam com bijuterias, sabonetes e outros.
Já dona Isolde W.
Nascimento (esposa de Roberto P. do Nascimento o Robertão ex atleta do G.E.
Olímpico), conheceu a Ana Bugra por volta de 1947, e relata que era uma pessoa
de pouca fala e sua particularidade era plantar milho. Quando em fase de
recolhimento do plantio, digeria o milho cru.
A
BUGRA DO CONVENTO DAS FREIRAS
Depoimento do jornalista Carlos Braga
Mueller:
Quando eu era criança, lá pelos anos
cinquenta, e frequentava a missa das 9 horas da antiga igreja matriz
de S. Paulo Apóstolo de Blumenau, muitas vezes encontrava uma senhora indígena,
de idade já avançada, que orava de maneira fervorosa em frente ao altar.
Era a "Bugra do Colégio das
Freiras", que havia sido criada no Convento das Irmãs da Divina
Providência.
Ela caminhava com dificuldade e os pés se
voltavam para dentro, como se ela fosse tropeçar nela mesma. Sempre andava
acompanhada de uma freira ou funcionária do Convento.
Mas por que será que ela caminhava dessa
forma? Era a questão que martelava na cabeça da então criança que eu era.
A resposta me foi dada pelas minhas
tias, que conheciam bem a história dessa bugra.
No final do Século XIX e início do Século
XX, no Vale do Itajaí, os índios eram dizimados pelos
"bugreiros", caboclos impiedosos que atacavam as aldeias durante a
noite. Degolavam os homens, aprisionavam as mulheres e as crianças, que traziam
para a "civilização" como prova, para assim receber sua recompensa
pela matança.
Era um trabalho sujo, patrocinado por
colonos e até por prefeituras do Vale do Itajaí, pois a integridade física dos
agricultores era constantemente colocada em risco pelo ataque dos bugres.
Numa destas investidas, a pequena bugra foi
aprisionada e deixada no Convento das freiras de Blumenau.
Ali recebeu um nome cristão e tornou-se fiel
seguidora dos mandamentos cristãos.
E por que mancava e cruzava os pés, andando
com tanta dificuldade?
A revelação, contada pelas minhas tias, até
hoje me incomoda: para que as crianças indígenas não fugissem enquanto seus
pais eram mortos ou aprisionados, os bugreiros retalhavam a facão a sola dos
seus pés.
Não existem registros oficiais desse tipo de
barbaridade cometida pelos bugreiros, mas o fato era voz corrente na comunidade
blumenauense daqueles tempos.
A matança só terminou quando por volta de
1914 foi criado o SPI, Serviço de Proteção aos Índios (hoje FUNAI), sob o
comando de Cândido Rondon. Foi instalado um Posto Avançado do SPI na região de
Ibirama (José Boiteux) para atrair os bugres e tentar civilizá-los.
Em Blumenau, a bugra Ana dedicou-se
integralmente ao Convento e ao Colégio Sagrada Família.
Era uma figura muito popular e quando morreu
já idosa, deixou saudades.
História: Colégio Sagrada Familia.
Data oficial de fundação do Colégio Sagrada Família 27 de abril de 1895.
A história do COLÉGIO SAGRADA FAMÍLIA foi iniciada em 1895, pelas Irmãs
Anna, Rufina e Paula. A elas juntaram-se, já em 1896, as Irmãs Júlia e Roberta,
e, em 1897, a Irmã Godeharda. Foram lutas e sacrifícios os primeiros anos, mas
de entusiasmo missionário –uma das pioneiras, Irmã Anna, cuja saúde não logrou
resistir aos de Chegadas a Blumenau no dia 27 de abril de 1895, após a
breve passagem por Brusque, as Irmãs iniciaram imediatamente a sua atividade
educacional, atraindo logo um bom número de alunas. Muito depressa se fez
sentir a exiguidade de espaço na primeira casa, entravando a expansão da
atividade. Após diligente busca, e vencidas grandes dificuldades, foi possível
adquirir uma propriedade muito bem localizada, próxima à Igreja e ao convento
dos padres franciscanos, os quais, desde que o guardião, Fr. Zeno Wallbröhl,
fora buscá-las em Brusque, sempre apoiaram fraternalmente o trabalho das Irmãs.
As próprias Irmãs colaboraram na
medida de suas forças, ou melhor, “acima de suas forças, de modo que uma
ou outra sofreu a vida inteira as conseqüências desse esforço sobre-humano”. Em junho de 1898, com a valiosa ajuda dos
frades franciscanos, foi possível iniciar a construção, e em 20 de março do ano
seguinte, pronta uma parte da casa, celebrou-se aí a primeira s. Missa,
inaugurando com a bênção de Deus a nova sede, então colocada sob o patrocínio
da “Sagrada Família”.
“No mesmo dia celebrou-se na nova
capela a vestição da primeira noviça, Irmã Clemência”, diz a crônica, frisando que, durante
anos, muitas candidatas, provindas não só de famílias alemãs, mas também de
origem italiana, polonesa e rutena, entre elas diversas ex-alunas do colégio,
aí se preparavam para ingressar na vida religiosa.
Para saber mais sobre o Colégio Sociedade Divina Providência Sagrada
Família acesse:
Arquivo Lorena Karasinsky/Ursel Kilian/Colaboração Carlos Braga
Mueller/Adalberto Day